Merencória política econômica

11/06/2013 18:30

Conduzindo a economia em uma rua sem trilhos, o governo direciona sua nau a uma tempestade propiciando quem sabe o  naufrágio . Não bastasse a turbulência da inflação que tem deixado toda a população enjoada, as políticas econômicas adotadas tem se mostrado  totalmente sem sentido, forjadas a fim de alcançarem aprovação que remitam à reeleição.

Bravíssima a iniciativa em eliminar o IOF nas transações dos investidores internacionais, porém, um tanto desarticulada no tempo. Conter a depreciação do real não seria necessário, se quando em meados do ano passado, ao eliminarem a competitividade internacional com as indústrias do país, mais especificamente a automobilística, não tivessem sido feitas as práticas protecionistas que  além de inibirem o desenvolvimento nacional da industria de automóveis, geraram o atual problema no câmbio.

Enquanto em uma hora a “gerentona” anuncia a manutenção de empregos e se esquece de conter a inflação e garantir a reserva do superávit primário, em outra, dá aval ao Bacen  para conter a mesma sem atentar ao crescimento tão anunciado com o aumento da taxa SELIC. Diante a esta incerteza e desarranjo que vem se mostrando, uma coisa é certa, não são forças ocultas desentendidas que mostram sinais do descompasso na melodia, nem a grande “força mental feita pelos pessimistas que a chefa do Executivo tanto teme”, mas sim a própria falta de sincronia dos problemas atuais entre políticas econômicas e cambiais adotadas.

Ao usar, por analogia, o martelo para tudo, desde pregar pregos, que é uma utilidade legitima, até abrir lata de ervilha, colocar parafusos e limar facas, a “patroa” apenas reproduz os manuais acadêmicos sem fazer observação da realidade. Quem conhece abridor de latas, chave de fenda e esmeril percebe que não pode usar martelo para tais finalidades, ou melhor, até pode, mas não seria muito inteligente.

Por outro lado, quem não conhece nenhuma ferramenta além do martelo pode optar por: aprender a usar outra ferramenta apropriada; usar o martelo , mesmo ele não sendo a ferramenta adequada, com prejuízos óbvios; renunciar ao problema, dando-o por insolúvel, pois pensa que se o problema não pode ser resolvido com martelo, é porque nada no universo pode resolver tal problema.

[...] é preciso investigar a realidade como ela é , examinando os fatos em vez de simplesmente fingir que a realidade é exatamente como nos contos de fada e dos fatos estudados nas cartilhas. O erro não é dos autores e sim de quem lê e acata cegamente...

Se Jonh Maynard Kaynes disse que é necessário o Estado intervir na economia e isto não está funcionando é culpa dos pessimistas, para que precisamos de outras ferramentas? Para que precisamos de outra explicação? E assim permanecemos enterrados até o pescoço em suas crendices, nutrindo-as com vãs explicações baseadas em métodos eficazes para o pleistoceno, cujas intenções são imprevisíveis.

Tanto faz se o problema é científico, administrativo ou econômico, as heurísticas usadas para solucioná-los são na essência, praticamente as mesmas. A lógica e a criatividade não servem apenas para inventar a televisão e o computador, ou para compor poemas e canções. Servem praticamente para tudo; todo problema, em especial, aqueles que envolvem números, gráficos, variações complexas dos números em função de numerosos parâmetros, podem ser minuciosamente investigados, compreendidos e solucionados à luz da lógica e da matemática, podendo ainda ser enriquecido com o brilho da criatividade.

Perguntas sensatas deveriam estar sendo feitas antes da aplicação da ética da convicção em pretérito à ética da responsabilidade. O método funciona? Por quê? Como? Qual o âmbito de aplicação ? De que modo poderia funcionar melhor? De que modo pode funcionar melhor em caso gerais e mais particulares ? Estas  são perguntas pertinentes e necessárias, que todos deveriam fazer...

Para o sucesso econômico é imprescindível compreender o que se está fazendo e porque se está fazendo daquela maneira, caso contrário, fica-se impossibilitado de corrigir eventuais distorções e revisar ou refinar uma inicialmente incorreta e imprecisa.

É quase religiosa a argumentação de que a economia não cresce pois há muitos pessimistas torcendo para isso, se a economia não cresce a explicação é óbvia: “ Há muitos pessimistas torcendo para isso”. A explicação sempre é a mesma toda vez que o martelo não funciona para descascar laranjas... Talvez alguém pudesse cogitar a possibilidade de usar uma ferramenta melhor para descascar a laranja. “Oh não!” isto é heresia...

Na realidade, o governo tem tratado a economia e o país em geral como receita de bolo, o que é um crime do ponto de vista intelectual, tratando casos parecidos como se fossem idênticos, representando o assassinato da transcendência e da lógica. Tenta-se usar regrinhas elementares em situações de extrema complexidade e é natural a ocorrência de erros atrás de erros. Mesmo ignorando a realidade e fingindo estar tudo bem, não é possível encobertar o feeeling individual do analista humano inteligente, que continuará sendo um diferencial precioso que o torna superior ao analista humano menos capacitado, aquele que apenas segue o que o livro recomenda e repete os preceitos que memorizou.

Por: Thiago Monteiro